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quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Conheça a história da Viação Rio Grandense que tem Nova Cruz como cidade natal dos fundadores

Matéria Especial do site Unibus RN Histórico Entre os meados de 1951, Vicente Alves Flor adquiria um ônibus GM com carroceria de madeira, tipo bonde, e passava a operar a linha Nova Cruz/Natal – adquirida pelo seu irmão, Luiz Flor – três vezes por semana. Foi o primeiro passo para a criação da Viação Riograndense – primeira empresa de transporte do Rio Grande do Norte. Nova Cruz, cidade natal dos fundadores da empresa, era também o berço da Riograndense. Com o crescimento da empresa, crescia a área de atuação da Riograndense, direcionada aos municípios próximos de Nova Cruz. O segundo veículo, adquirido ainda na década de 50, passou a operar a linha Santo Antonio/Natal. Em 1957, a empresa conseguira comprar o primeiro ônibus zero quilômetro; festa, felicidade e mais força de vontade para seguir a diante: Para quitar o novo ônibus, a empresa passou a operar o trecho Natal/São Paulo, em uma viagem de 14 dias (ida e volta), extremamente desgastante. Parecia que o esforço viria ser recompensado. O trecho Natal/Nova Cruz voltou a promover melhoras na receita e o crescimento da empresa foi extremamente significante. A Riograndense se consolidava junto às necessidades de locomoção da população do Estado. O crescimento da empresa Nos anos 50, o segmento de transporte ainda dava seus reais primeiros passos. Em Natal, por exemplo, o sistema de bonde ainda prevalecia – só em 1969 a primeira empresa viria surgir – e, ainda assim, a área urbana da cidade se limitava até o bairro das Quintas – já considerado distante para o então contexto de capital. Direitos, deveres, modo operacional e área de atuação das empresas começava a ser discutido. Outras empresas, surgidas através de determinadas cidades, também começavam a aparecer na capital. Era o caso da Viação Campos, em Pirangy do Sul; Expresso Cabral, em Macau. A união das operações entre o interior e a capital estruturava o setor de transporte rodoviário, fazendo surgir à primeira rodoviária da cidade, no bairro da Ribeira. Já nos anos 80, com o segmento do transporte rodoviário praticamente consolidado, a Riograndense também se estruturava no turismo. Era criada a ‘Riograntur’, empresa subsidiária da Riograndense voltada exclusivamente para o turismo. As empresas do sistema rodoviário sempre foram mais ousadas, até mesmo futuristas. Não hesitavam investimentos em novos ônibus e até mesmo em suas áreas de operação. Assim, a Riograndense comprou a Viação São Cristóvão, fazendo crescer sua imponência no segmento. Nos anos 90, surge o contexto de região metropolitana. A Riograndense já dominava boa parte das cidades e comunidades próximas de Natal. Entre as cidades, temos como destaque Macaíba e São Gonçalo do Amarante; nas pequenas comunidades, Extremoz e Ceará-Mirim estavam entre as áreas de atuação da empresa. A partir daí começam os investimentos da empresa em ônibus urbanos. Como a empresa vivia seu auge, conseguiu, nos anos 90, também se estruturar no sistema urbano de Natal, passando a operar as linhas 03, 28, 45, 63 e 59. Uma vez que a estrutura do próprio sistema urbano não estava definida, as linhas 63 e 59 foram repassadas a empresa Conceição. A ‘troca’ de linhas urbanas da capital foi algo extremamente comum entre as empresas na década de 90. A década de 90 foi marcante para a empresa. Além do enorme investimento em ônibus urbano feito em praticamente todos os anos, a empresa também comprou veículos rodoviários. A preferência foi pela SCANIA, em um lote de 10 ônibus – entre eles dois ‘Super Leito’, uma espécie de serviço de luxo ofertado pela empresa; e um com chassi Volvo, sua última compra da marca. Em 1999, a empresa adquire 10 unidades do Urbanuss, então recém-lançado pela montadora Busscar. Os veículos foram apresentados em desfile pela cidade. Nos novos veículos, os usuários tinham a opção de comprar sorvetes e picolés da marca KiBom, com um freezer dentro dos ônibus. Durante os dias úteis, os ônibus circulavam nas linhas urbanas da empresa. Nos fins de semana, com a maior demanda nas linhas litorâneas metropolitanas, eram redirecionados para linhas como NATAL/PITANGUI. A chegada dos anos 2000 trás consigo o início do sucateamento do sistema metropolitano e rodoviário. Alternativos passam a fazer parte do sistema oficial de transportes e os clandestinos começam a surgir. O órgão gestor demonstra não ter capacidade de fiscalizar os ilegais, fazendo com que o segmento cresça e ganhe força. Era o início da crise da Riograndense. Além dela, a década foi devastadora também para outras grandes e tradicionais empresas, como Jardinense e Nordeste, que também entraram em crise, bem como para a Transul, Brandão e Unidos, entre outras empresas, que tiveram a falência decretada. Em comemoração aos seus 50 anos, em 2001, a empresa enfrentou a crise – mesmo que de maneira moderada, assim podendo considerar. Comprou 10 micro-ônibus (modelo Micruss), dois ônibus urbanos (modelo Urbanuss Pluss), e um ônibus rodoviário – sendo esta uma das principais compras da empresa, referenciada até hoje; Panorâmico DD. Ao passar dos anos, seus serviços foram perdendo a qualidade. A manutenção dos ônibus estava cada vez mais deficitária. Na necessidade de renovar uma frota já velha do sistema urbano – o que ainda lhe rendia consideráveis lucros – a empresa recorreu a ônibus usados, comprando veículos do Rio de Janeiro, Recife e Paraíba. Pouco adiantou. Até os dias em que esteve em operação, à empresa mantinha ônibus com mais de 20 anos de uso nas ruas. Suas últimas grandes ações foram entre 2007 e 2010, quando a empresa adquiriu novos ônibus. Recentemente, também optou por arrendar algumas linhas metropolitanas e rodoviárias. “A Riograndense era como um filho, e este filho não poderia morrer” Esse era o pensamento de seu fundador, Vicente Alves Flor. A frase foi dita pelo seu filho, então herdeiro e proprietário da Riograndense, José Venâncio Flor, durante a cerimônia de benção dos ônibus adquiridos em 2008 pela empresa: “Meu pai, Vicente Alves Flor, chegou a dizer, quando em vida, que a Riograndense era como um filho, e este filho não poderia morrer. Papai, a Riograndense ainda existe e completará 57 anos no dia 18/10/2008, e, se depender de mim, honrarei seu desejo; ela vai existir para sempre!” Venâncio, como era popularmente conhecido, também fez agradecimentos a outros familiares, amigos e empresários que contribuíram para a criação e manutenção da empresa, entre eles, Luiz Flor – irmão do fundador – e encerrou a cerimônia com uma homenagem ao pai: “Papai, por tudo que você aqui: bom esposo, bom pai, bom avô, bom bisavô, bom irmão, bom sogro, bom cunhado; sinto que você está num lugar de merecimento, descansado em paz. Fique com Deus”. No auge da empresa, Vicente Flor e a Riograndense foram personagens de uma matéria na revista ‘Eu Rodo’, que abordava o ideal da empresa de preferir não crescer, em meio à adesão de ônibus da marca Volvo e do bom serviço prestado. A matéria encerra com uma reflexão do próprio Vicente Flor sobre a Riograndense: “’Não quero dizer que a gente venceu, mas caminhamos pra frente’, conclui com voz pausada, tipicamente nordestina, no final da entrevista a Eu Rodo”. A súbita falência A sensação que se tinha, era que a Riograndense deixava a ideia de crise de lado, o que, talvez só tenha propagado o crescimento de suas dívidas. De fato, tudo ia ‘muito bem, obrigado!’, ainda que na medida do possível. Os ônibus passavam por reformas e a empresa não abria mão ser boa no que pudesse: compra de ônibus com bancadas acolchoadas – até mesmo poltronas rodoviárias em ônibus urbanos; implantação de câmeras e GPS; manutenção dos cobradores nas linhas e a busca de um sistema eficaz em suas operações. Por incrível que pareça, essa era a realidade da Riograndense. As dívidas que assolavam a empresa podem ser comparadas a uma bola de neve, que só cresceu ao longo dos anos, e serviu de corrosão para a Riograndense. Apesar da sensação de que as coisas estavam em boa ordem na empresa, em agosto de 2011, sob pressão do órgão gestor, a empresa passou um período sem operar a linha 45 – na ocasião, a empresa Santa Maria assumiu a linha. A empresa voltou a operar a linha por aproximadamente um ano, quando, em junho de 2012, novamente abandonou a linha. Era o início da falência que viria dias depois. No domingo 12 de agosto de 2012, dia dos pais, a população foi surpreendida pela suspensão dos serviços da Riograndense nas ruas. De acordo com o jornal Tribuna do Norte, o proprietário da empresa foi a garagem filial da empresa, no bairro de Nordelândia, e, com um grupo de motoristas, levou parte dos veículos para a garagem sede da empresa, em Cidade da Esperança, e parte para a cidade de Parnamirim, em um local não identificado. De acordo com funcionários, eles próprios ficaram surpresos, uma vez que não foram informados sobre a falência da empresa e estavam com salários em dias. O Sindicato dos Rodoviários esteve na garagem da empresa, assegurando garantir os direitos dos funcionários. Na manhã da segunda-feira (13), os ônibus do sistema rodoviário da empresa chegaram a sair para circular, mas foram impedidos pelos sindicalistas, que os apreenderam para que pudessem ser leiloados e, com o dinheiro, os funcionários tenham os direitos recebidos. Dívidas chegam a R$ 50 milhões Em entrevista ao Diário de Natal, o advogado da empresa, Augusto Valle, disse que as dividas da empresa chegam ao montante de R$ 50 milhões. Os bens dos proprietários foram leiloados ou penhorados para quitar as dívidas e continuar pagando o salário dos funcionários, até chegar um ponto insustentável. Em nota publicada após a falência, a empresa ressaltou uma situação de extrema dificuldade no sistema urbano de passageiros: "O serviço do transporte coletivo de Natal está à beira do caos. Caso não se adotem medidas urgentes e efetivas para a solução dos problemas aqui mencionados, a Riograndense é apenas uma amostra do que ocorrerá com os demais operadores de transporte". O empresário Augusto Maranhão corroborou com a situação de dificuldades vividas pelas empresas urbanas. Em entrevista ao DN Online, Augusto declarou: "Todo mundo já sabia o que estava para acontecer com essa empresa. E isso é fruto de 17 meses que estamos sem aumento na tarifa dos transportes. Há ainda a situação da Guanabara e da Nossa Senhora da Conceição que tiveram que vender 70% de suas ações". O fim melancólico de 60 anos de atividades Domingo, 12 de agosto de 2012. Um dia que fica marcado para sempre na história do transporte potiguar pelo fim das atividades da mais antiga empresa de ônibus do Estado. Para a tristeza dos especialistas em transporte, e criando enormes transtornos para quem dependia dela, a Viação Riograndense encerrou melancolicamente seus serviços sem, ao menos, avisar aos funcionários e usuários do seu fim. É verdade que a Riograndense já não vinha bem das pernas já há algum tempo. Uma crise financeira interminável assolava a empresa do Senhor Venâncio Flor já há mais de uma década e todos sabiam que esse pedido de falência era questão de tempo. Porém, tal notícia pegou toda a sociedade de surpresa. Foi um fechamento abrupto e surpreendente para todos. Porém, como já dissemos, tal situação era questão de tempo. Uma empresa que mantinha ônibus com 20 anos de uso, veículos com pouca manutenção e conservação, além de dívidas trabalhistas enormes. Não foi a toa que o empresário Augusto Maranhão (Cidade das Dunas) classificou a falência, em uma entrevista recente, como a “ida certa para a bancarrota”. Essa bancarrota veio cedo demais. Tal situação só nos mostra o quanto o poder público não dá a mínima atenção para o setor de transportes. O fim integral de uma empresa representa muito mais que as perdas materiais por um todo, mas sim sinaliza para a clara falência do sistema. O Rio Grande do Norte conta, hoje, infelizmente, com um sistema de transportes antiquadro, com um atraso quase irreversível. E tal atraso se dá nas duas modalidades: na urbana, sem muitos ideais de melhorias - a não ser a licitação, empurrada pela barriga -; na rodoviária, já começa pela falência do órgão gestor - que não gere nada - e pela total falta de estrutura que ronda o sistema rodoviário. Além do, talvez, principal fator, conforme publicado na nota que justifica a falência: o alto investimento no transporte individual. Como se falam, nas esferas governamentais, em utilizar o transporte público se os próprios governantes fazem de tudo para que carros, carros, motos e mais carros sejam adquiridos pelos brasileiros? Assim, as cidades travam e a mobilidade urbana se torna prejudicial para todos – principalmente para quem compra carro. É inefável a tristeza e os lamentos de toda equipe do Unibus RN pela perda da Viação Riograndense. Infelizmente, a empresa mais tradicional do Estado fechou suas portas de maneira triste e deixa uma lacuna enorme no sistema de transportes. Lacuna essa que, talvez, nunca mais deva ser preenchida. EM TEMPO Atualmente, vários empresários particulares administram a linha Nova Cruz/Natal usando o nome e inclusive veículos da Empresa Rio Grandense. Por Thiago Martins Colaboração: Andreivny Ferreira e Alex Azevedo

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