Bolsonaro diz que fará
tudo o que puder 'dentro da legalidade' contra Venezuela e Cuba
Crítico frequente de
Cuba e Venezuela, o presidente eleito Jair Bolsonaro ( PSL ) voltou a se
referir aos governos dos dois países na noite desta terça-feira. Num vídeo
publicado nas redes sociais, ele afirmou que agirá contra ambos, acrescentando
que entre os integrantes do Programa Mais Médicos havia agentes cubanos.
— Tudo o que pudermos
fazer dentro da legalidade e da democracia contra esses países nós faremos —
disse Bolsonaro.
O presidente eleito
retomou ainda a questão do "desconvite" para a sua posse feito aos
dirigentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e de Cuba, Miguel Díaz-Canel.
No domingo, o futuro
chanceler de Bolsonaro, Ernesto Araújo, anunciou que ambos não seriam
convidados para a cerimônia de 1º de janeiro. Acontece que, como confirmou
depois o Itamaraty, os governos cubano e venezuelano já haviam recebido
convites, com autorização do próprio presidente eleito, que inicialmente
orientou a diplomacia a seguir o protocolo habitual, que é convidar todos os
países com os quais o Brasil tem relações diplomáticas.
Só depois o Ministério
das Relações Exteriores recebeu da equipe de Bolsonaro a orientação de excluir
Cuba e Venezuela da lista, o que obrigou a diplomacia a fazer uma segunda
comunicação aos dois governos, num "desconvite".
No vídeo,
Bolsonaro afirmou que a "melhor forma de apoiar o povo venezuelano" é
não convidando Maduro.
— Não convidamos o
ditador cubano nem o ditador venezuelano. Afinal de contas, é uma festa da
democracia. Lá não existem eleições e quando existem são suspeitas de fraude.
Então, para nós, não interessa — completa Bolsonaro.
Ao se referir a Cuba,
Bolsonaro retomou suas críticas à participação do país caribenho no Programa
Mais Médicos. Sem apresentar provas, ele afirmou que parte dos integrantes não
era formada por médicos, mas por funcionários destinados a vigiar "o
trabalho escravo".
— Os 200 primeiros que
foram embora eram agentes cubanos ou integrantes do Exército. Eles estavam aqui
vigiando e tomando conta do trabalho escravo praticado por eles (cubanos) com a
conivência do PT e saíram porque poderiam ser checados por nós. Temos a
confirmação de que não tinham nada a ver com a medicina — diz o ex-capitão.
Em novembro, após o
presidente eleito afirmar que pretendia modificar os termos de colaboração com
o país caribenho, Havana decidiu se retirar do programa em vigor há cinco anos
que traz médicos de outros países para atuarem em regiões em que há déficit de
profissionais de saúde. A maioria dos integrantes do programa (51%) vinha de
Cuba, após acordo de parceria do Ministério da Saúde do Brasil com a Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas).
Crítica a imigrantes
Bolsonaro falou também
do anúncio feito na semana passada pelo futuro ministro das Relações
Exteriores, Ernesto Araújo, de que o Brasil deverá sair do pacto sobre
migrações da ONU, recém-aprovado pelo atual governo brasileiro em uma
conferência no Marrocos. O Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e
Regular teve a adesão de 164 países, mas sofreu a oposição dos Estados Unidos e
de países governados pela extrema direita nacionalista, como Hungria e Polônia.
Em sua declaração, o
presidente eleito atacou a imigração em termos genéricos, mas deu a entender
que se referia a imigrantes africanos e de países muçulmanos na Europa.
— Vocês sabem da
história dessa gente. Eles têm algo dentro de si que não abandona suas raízes.
Eles querem fazer valer sua cultura, os seus direitos lá de trás e seus
privilégios. A França está sofrendo isso. Não queremos isso para o Brasil. Para
entrar no país deve haver um critério rigoroso. No que depender de mim enquanto
chefe de Estado, eles não entrarão — afirmou.
O Brasil tem cerca de 1
milhão de estrangeiros residentes, menos de 0,5% de sua população e apenas um
terço dos 3 milhões de brasileiros que vivem no exterior. O pacto sobre
migração não cria obrigações legais para os países signatários; seu objetivo é
coordenar as políticas nacionais de imigração, de modo a combater o tráfico de
pessoas e facilitar a regularização da situação dos imigrantes.
Ao criticar a decisão
do futuro governo de abandonar o acordo, o atual chanceler, Aloysio Nunes
Ferreira, lembrou que o objetivo do Brasil ao endossar o o pacto não é apenas a
proteção dos estrangeiros que vivem no país, mas dos brasileiros que vivem no
exterior.
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