Áudio revela articulação de Bolsonaro para tirar
Delegado Waldir da liderança do PSL
Em áudio revelado
nesta quarta-feira (16) pelo site da revista Época e
da revista Crusoé, o presidente Jair Bolsonaro fala com interlocutor sobre lista de
assinaturas para tirar o deputado Delegado Waldir (GO) do cargo de líder do PSL na Câmara. Waldir é ligado ao presidente do
legenda, deputado Luciano Bivar (PE), e tem feito críticas públicas a
Bolsonaro.
Nesta quinta (17), o presidente
afirmou que não discute "publicamente"
a disputa pela liderança do PSL na Câmara. "Converso
individualmente. Se alguém grampeou telefone, primeiro é uma
desonestidade", disse Bolsonaro.
Pelas regras internas da Câmara dos Deputados, a escolha do líder partidário é
oficializada por documento enviado ao presidente da Casa, atualmente Rodrigo Maia (DEM-RJ). O requerimento deve ser
assinado pela maioria absoluta dos integrantes da sigla, que hoje tem 53
deputados.
"Olha só, nós estamos com 26, falta
só uma assinatura pra gente tirar o líder, tá certo, e botar o outro. A gente
acerta, e entrando o outro agora, em dezembro tem eleições para o futuro líder
a partir do ano que vem", afirma o presidente.
"A maneira como
tá, que poder tem na mão atualmente o presidente, o líder aí? É o poder de
indicar pessoas, de arranjas cargo no partido, é promessa pra fundo eleitoral
pro caso das eleições... é isso que os caras têm. Mas você sabe que o humor
desses caras muda, de uma hora pra outra, muda."
A voz do interlocutor
de Bolsonaro não aparece na gravação, o que sugere que o trecho foi previamente
editado para não haver identificação da pessoa com quem o presidente conversou
sobre o assunto.
"(...) numa boa porque é uma medida
legal (inaudível). Eu nunca fui favorável à lista, vou deixar bem claro. Sou a
favor da eleição direta, mas, no momento, você não tenho outra alternativa, só
tem a lista", afirma o presidente na conversa.
"Aqui tem 25. Já
falei com Pedro (inaudível), vou ligar pra outras pessoas. Até quem sabe a
gente passe aí do... tenha um número com folga até. Mas se você fechar agora,
já tem o suficiente."
Na noite desta quarta, o líder do
governo na Câmara, deputado Major Vítor Hugo (PSL-GO), anunciou nesta
quarta-feira que 27 dos 53 deputados do PSL assinaram um requerimento para
tornar novo líder da bancada o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP),
filho do presidente Jair Bolsonaro.
Logo em seguida, porém, o deputado
Delegado Waldir (PSL-GO) apresentou uma lista com 31 de assinaturas para retomar a liderança.
Somadas, as duas listas continham 58 assinaturas, cinco a mais que o número de
deputados do partido.
Cabe ao líder, por exemplo, orientar
os votos da bancada e negociar com os deputados os projetos de interesse do
partido.
Crise
A crise interna do
partido se tornou pública na semana passada, quando o presidente Jair Bolsonaro
sugeriu a um apoiador "esquecer" o PSL porque o presidente do
partido, Luciano Bivar, estava "queimado para caramba".
Desde então, a ala do PSL que defende
as posições de Bolsonaro tem protagonizado embates com o grupo aliado de Bivar (veja
no comentário abaixo).
Na queda de braço entre Bolsonaro e
Bivar, parte dos deputados da legenda manifestou estar ao lado do Palácio do
Planalto. O atrito gerou o rumor de que Bolsonaro e esse grupo de parlamentares
poderão deixar o partido, informação que o presidente não confirmou oficialmente.
Na semana passada, Bolsonaro e seu grupo de apoio apresentou pedido formal ao partido para que
forneça documentos e informações sobre as contas
partidárias dos últimos cinco anos, incluindo os dados parciais de 2019.
Com o pedido de acesso a contas,
Bolsonaro e os deputados desejam auditar as contas para saber se a aplicação
dos recursos públicos recebidos pelo PSL está correta.
A auditoria pode ser um caminho para alegação de justa causa para
que os parlamentares se desfiliem da legenda sem o risco de perder os cargos.
A legislação eleitoral prevê situações específicas em que a troca
pode ser feita sem que o parlamentar seja enquadrado em
infidelidade partidária e perca o mandato.
Nesta quarta, ao falar com a imprensa
sobre as relações com o PSL, Bolsonaro afirmou que não deseja "tomar partido de
ninguém" e defendeu "transparência" nas
contas do partido. O presidente também foi questionado se defende a saída de
Bivar do comando do PSL. “Não defendo nada, não quero saber de nada. Eu só
quero transparência”, respondeu.
Fonte: G1
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