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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A MELANINA MATOU O JOVEM DO CONGO NO TROPICÁLIA DO TERROR

Ele era ‘apenas’ um rapaz vindo da República Democrática do Congo, país do continente africano com quase todos os índices que estabelecem os parâmetros de uma vida digna, invertidos e repelentes naturais para quem busca o mínimo que se espera da dignidade humana.

Moïse Mugenyi Kabagambe estava no Brasil desde 2014 como refugiado. Apesar de não trabalhar formalmente, buscava o sustento atendendo aos clientes de um quiosque chamado Tropicália, em plena Tijuca, no sempre alegre, bonito e afetuoso Rio de Janeiro, que violentou a música composta pelo negro Gilberto Gil em 1969, e deu um freio para negar que ‘continua lindo’. O Rio pode continuar lindo. Mas uma parte dele foi cenário de horror.

Foi feio. Horrível. Terrível. Uma cena de terror que contrasta com a perene alegria do Rio, do sorriso contagiante dos cariocas.

Um jovem de apenas 24 anos de idade foi brutalmente espancado até a morte. Selvagens que usam nomes de humanos desferiram dezenas de golpes covardes diante de um ser indefeso.

Não há motivo que justifique tamanha brutalidade. Afinal, um ser humano foi espancado por golpes de tacapes até não resistir; e olhe que o africano é resistente a praticamente todas as intempéries e agressividades humanas ou animais. Mas foi demais. Passou da conta.

Tropicália. Quanta ironia. Um movimento musical que surgiu na década de 60 com os rebeldes Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e tantos outros, que ousaram ‘arejar’ a atmosfera nacional com música, cultura, arte. O tropicalismo era a essência da alegria, da diversão. Nunca da violência, do racismo, do preconceito.

Mas foi justamente na barraca Tropicália que o congolês foi espancado até a morte.

Alguns até tentam negar o explícito e irracional racismo que vivenciamos no Brasil. Mas esse é apenas mais um caso em que a cor da pele foi fundamental para decretação de sua morte.

Inevitável afirmar que o fato ocorrido no Rio não teria tido o mesmo desfecho se Moïse fosse branco. Se a melanina que tintura de resistência a pele negra, tivesse tingido a pele daquele jovem sensível ao sol, protegida por filtro solar fator 80, o Tropicália não teria sido palco de um assassinato à sangue frio, em plena luz natural que iluminou essa barbárie.

A cor da pele daquele jovem fez toda a diferença entre viver e morrer.

E isso é inaceitável sob todo e qualquer aspecto que se observe os atos dignos do primitivismo primata de nossa civilização, carente de empatia e abundante em selvageria covarde.

A cor da pele ainda permanece como requisito fundamental para diferenciar o tratamento que recebemos na sociedade, tão fútil quanto estéril e hipócrita, falsa no sorriso aos negros de sucesso raro e grosseira sincera diante dos negros da senzala moderna com carteira assinada.

A dor física sofrida pelo jovem congolês assassinado no Rio, pode ser comparada à dor da impotência de tantos negros que sofrem violência permanente sem reação, humilhados pelos que se acham superiores por ter uma pele com cor diferente, como se a epiderme estabelecesse a personalidade; e a melanina, o caráter.

O grito de dor de Moïse foi sufocado pelos brutamontes covardes do Tropicália. Mas o grito de indignação de todos que repudiam esse tipo de atitude jurássica, tem que ecoar mundo afora para dizer que no Brasil, bárbaros racistas não representam nossa essência.

Que o Rio de Janeiro continue lindo, sob o repúdio coletivo que veste preto, a cor que matou Moïse; mas que vai pintar de indignação e revolta, os palácios que devem fazer Justiça e pintar um arco-íris de uma cor só, nos céus da empatia, para dizer que o preto pode até ser luto momentâneo; mas é definitivamente luz, alegria, resistência… é cor de pele de gente boa e do bem.
Blog de Túlio Lemos


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